Algo de Duende tem este olhar de Niels Kiené Salventius. Mas um olhar dramaticamente deprimido, desistente.

Parece-nos por vezes surgirem no cerne desta floresta uns olhos perscrutantes mas sentimos dela  uma aragem frígida, uma linguagem que traz à tona uma vontade indígena de nunca voltarmos a ser o que fomos. Sussurra neste local uma vergonha assustada do passado condolente. Neste reino inexistem congruências dilaceradas por uma memória egoísta. São lágrimas acídulas que rolam, sem paixão, na face cosmética do nosso ancestral futuro. Hoje, sem absolvição, sobra-nos a piedade que nunca conhecemos para, com ela, aprendermos a nascer.

Como me revelava um Amigo: Ter sido não é nunca o que fomos sendo. E este é o retrato do que nunca fomos sendo.

Sirva-nos este Salventius para carpirmos as desinteligências e as insensibilidades de que nos quisemos fazer, olhemos para este reino como Gnomos deprimidos pela nossa própria pequenhez.


Sintamo-nos aqui para podermos seguir em frente.




Leonardo de Sousa Lima

Fevereiro, 2011

Niels Kiené Salventius nasceu em 1975 em Gouda, uma velha cidade holandesa, conhecida pelo seu envolvimento natural variado, localizada no "Coração Verde dos Países Baixos".

Jovem, Niels Salventius gostava do exterior, especialmente da sua terra natal. A natureza holandesa, famosa pelos seus cenários paisagísticos planos e nuvens volumétricas, há séculos que tem inspirado pintores e artistas.

Desenvolveu uma paixão pelo desenho e pela arte desde cedo. Os muitos desenhos, por ele elaborados, tornaram-se a principal motivação para estudar Desenho Gráfico, em Roterdão. Quando se preparava para, profissionalmente, enfrentar um complexo gráfico industrial, um sentido crescente de adversidade face à norma emergiu. A sua diversidade de expressão revelou-se contra os clichés do design e os formatos convencionais.

Após a sua graduação pela "Academia de Belas Artes de Breda" (Filme e Realização), Niels trabalhou em regime de freelancer como Director Artístico (Art and Concept Director) na Indústria de Cinema e Publicidade.

Para além da Pintura e do Design Gráfico, a Fotografia manteve-se sempre como a sua grande paixão. Frequentemente o ajudou a "captar" não só o momento, mas também uma história ou uma inspiração. Muitas viagens, em companhia de blocos de notas e câmaras fotográficas, resultaram num enorme monte de fotografias.

No Verão de 2005, Niels encontrava-se no topo de uma duna, nos "Les Landes" franceses, perto de "Hossegor", uma área conhecida pelas suas extensas praias e dunas cobertas de pinheiros. Aí realizou as suas primeiras séries de fotografia paisagística. Surpreendido pelo bom resultado fotogénico, começou, então, a captar outras imagens daquela área. Foram o início de "Retratos de Paisagens" a série que deu origem a esta exposição a que chamou "Labirinto Aberto".


Porque foram denominadas de Retratos?

"Porque as minhas Paisagens têm personalidade". Segundo Niels as paisagens são condicionadas e irreversivelmente alteradas pelo Homem, mas se se estiver disposto a observá-las, elas expressam a sua essência natural e espontânea. É esse o tipo de propriedades que Niels procura captar nas suas paisagens. Uma paisagem não mente. "Ela está ali, não pode ajustar a verdade ao que se apresenta à minha frente." É a combinação de massa terrena inerte e os céus em constante mutação que cria a tensão nas suas imagens. As nuvens e os céus podem, mesmo, transformar a paisagem mais monótona na tela mais aventureira. Esta perda de controlo sobre o objecto em estudo proporciona a Niels o entusiasmo e o desafio para a procura da melhor posição e do melhor ângulo de onde conceber o "retrato".


"Quando se fotografa um retrato, tem-se uma sensação de viajar. Eu estou a tentar atingir a fronteira do que há ali para ver e que eu quero observar. Ambos nos encontramos naquele retrato específico, que eu realizo naquele local, àquela hora e naquele momento. Às vezes, eu não consigo perceber de imediato o que me chamou à atenção. Depois de revelar a fotografia, torna-se sensível visualmente, até para mim. Este tipo de descoberta prova-me que eu encontrei o que a paisagem tentava a esconder. Sempre me deixei envolver pela própria área. As melhores imagens foram aquelas, das quais não estava à espera. Na maior parte das vezes, em locais remotos, sem talento para serem considerados um cenário belo. Estes são os desafios que eu amo e que me preocupo em descobrir. A personalidade que está subjacente àquele solo ou para além do horizonte. Faz-me sentir no tempo certo, no local errado.

Com a minha fotografia, eu altero a sua perspectiva de visibilidade comum e transformo-a para dentro do lugar correcto. Usando unicamente composições, luz natural e o ângulo perfeito."

Exposição integrada no

“INTERNATIONAL YEAR OF FORESTS - 2011”

Niels Kiené Salventius

Holanda

www.salventius.com